Ultimamente tem se observado que algumas orquestras e projetos do Rio de Janeiro não estão apresentando espetáculos somente de cunho erudito, pelo contrário, estão introduzindo o meio popular da musica para instrumentos e orquestrações clássicas. Será que isso é uma boa ideia? Será que “combina”?
Orquestra Petrobras sinfônica com o maestro Isaac Karabtchevsky
Primeiro, é necessário definir o conceito de “música clássica”. Há uma deturpação nessa forma de linguagem, música clássica corresponde ao Período Clássico da Música, entre o final do século XVIII até início do século XIX. Porém, ao nos referirmos como clássica, na verdade queremos dizer que é uma “música antiga”, portanto, o termo mais correto seria Música Erudita. E música popular são os gêneros musicais que ouvimos diariamente.
Infelizmente, no nosso país, o saber sobre o que é música brasileira e como ela se originou não é tão comentado. Entendo que saber sobre compositores de outros países, como Mozart ou Beethoven não seja uma obrigação, porém, grandes compositores como Heitor Villa-Lobos, César Guerra-Peixe, Chiquinha Gonzaga e Vânia Dantas Leite são BRASILEIROS, sendo, por exemplo, Villa-Lobos um dos maiores compositores da América Latina. Muitos desses nomes não são reconhecidos por grande parte da população brasileira.
Outro ponto infeliz é a falta de utilização desses grandes compositores brasileiros nas orquestras do Brasil. Muitos acreditam que é mais fácil tocar uma obra de Guerra-Peixe do que de J.S Bach devido a grande frequência desses nomes em espetáculos e por isso subentende-se que as composições brasileiras não têm o mesmo nível que os escritores famosos estrangeiros. Essa deturpação tem sido fatal para o conhecimento da nossa cultura também.
Entretanto, atualmente algumas instituições tem percebido isso e principalmente percebido que o público não tem tanta preferência em ir a um concerto orquestral ao invés de ir a um show de um cantor famoso. Por isso, a solução encontrada por esses órgão musicais tem sido implementar em seu repertório o uso de músicas conhecidas pela população.
Aqui no Rio temos os seguintes exemplos:
Orquestra Petrobras Sinfônica- Umas das principais e aclamadas orquestras do Rio, a OPES tem uma série denominada “O clássico é” onde você pode ouvir clássicos do rock, indie, samba, reggae, futebol e também músicas de grandes famosos em versão orquestrada, como o “Tributo a Cartola” e “Ventura Sinfônico” da banda carioca Los Hermanos. Todas estão disponibilizadas nas diversas plataformas digitais. O regente principal é o maestro Isaac Karabtchevsky e o suplente Felipe Prazeres que é filho do fundador da orquestra, Armando Prazeres. Foi fundada em 1972.
Academia Juvenil da Orquestra Petrobras Sinfônica- Fundado para jovens de 14 a 20 anos, a
AJOPES é um projeto social que visa à formação de jovens que queiram cursar faculdade em música. Por isso, as músicas listadas acima são executadas por esses jovens além de sucessos da banda Queen, Arlindo Cruz e Vanessa Camargo e compositores brasileiros, como César Guerra- Peixe. Eles também apresentam esses sucessos nos principais shoppings do Rio de Janeiro além de algumas músicas eruditas já inclusas no repertório do projeto. Foi criado pelo atual maestro Felipe Prazeres em 2012.
Johann Sebastian Rio- Uma orquestra composta somente por instrumentos de cordas, a Johan Sebastian Rio tem o objetivo de fazer espetáculos de musica barroca, buscando levar a musica erudita para a população carioca, mas também inovaram tocando clássicos da cantora Amy Winehouse. Foi fundado pelo atual spalla (regente), Felipe Prazeres em 2014.
Orquestra Sinfônica Cesgranrio- Fundada no ano de 2015 e sendo reformada no ano de 2018, essa orquestra fez sucesso com o seu espetáculo Cine Concerto, objetivando a execução de músicas conhecidas do cinema. Nesse ano de 2019 ainda apresentaram um concerto só de MPB juntamente com a cantora Maria Gadú.
Dessa forma, essas grandes instituições tem atraído o coração de apreciadores da música só que agora se utilizando o meio orquestral para isso. Além de trazer inovação para as orquestras, essa medida tem trago cultura ao povo que ás vezes nunca teve a oportunidade de conhecer um instrumento musical.
Isso nos mostra que assim como não há limites para a arte, haja vista que esta é uma forma de expressão, a música também não deve ser limitada por ser uma forma de expressividade. Ouvir música clássica não deve desmerecer a popular e esta também não deve retirar a importância da música erudita, mas ambas são MÚSICA e colaboram para a evolução e conhecimento da sociedade no meio cultural.
“Se a música é o alimento do amor não parem de tocar. Dêem-me música em
excesso; tanta que, depois de saciar, mate de náusea o apetite.”- William
Shakespeare
-Anne Vitória Galvão
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